Sem cintas de travamento – cortina com estacas desaprumadas
Colegas.
Eu não aceitaria!
Consultou-me hoje um amigo sobre o que considero perigoso modismo: a eliminação de cintas
de travamento entre as fundações de edifícios com mais de 15/20 pavimentos.
Sejam as fundações rasas, sejam profundas introduzo, sempre, um cintamento robusto interblocos
e sapatas, no caso ora abordado com espaçamento de pilares da ordem de 5,00m.
Aprendi, li, estudei, assim. As cintas não são peças figurativas e devem ser dimensionadas
para resistirem a esforços de flexão, e de tração decorrentes de excentricidades e de
recalques, por isso são armadas nas faces inferior e superior além de convenientemente
estribadas. Criou-se uma falsa idéia que estacas não recalcam!
Excentricidades de cargas não são raras Brasil a fora.
Nem estou pensando em eventuais sismos - fala Stolovas!
Como o cliente do amigo quer que as elimine resolvi consultar o grupo para obter mais
opiniões, convergentes, ou divergentes.
Abraços caetés
Eng.º Civil Marcos Carnaúba
Caro Carnaúba,
Minha modesta opinião: Sempre cinto todos os pilares em duas direções ortogonais.
Muitas vezes sou combatido por isso mas nunca ninguém conseguiu me convencer do
contrário.
Abraço
Palmeira
São Luís - MA
Feliz por ser chamado de professor, (sem o ser), pelo respeitado mestre Marcello da Cunha
Moraes.
Prezado Carnaúba,
Embora não discorde do uso de cintas de travamento entre blocos de estacas ou
entre pilares com fundação em sapata,
não acho que as mesmas sejam imprecindíveis para o bom funcionamento da
estrutura.
No caso de fundações em estacas, os blocos podem ser
considerados suficientemente rígidos para equalizar as deformações
nas estacas devido ao carregamento vertical, e o recalque diferencial entre blocos é
pequeno, sendo absorvido pela superestrutura.
A deformação lenta tende a diminuir a influência desses esforços.
Nos blocos sobre 3 ou mais estacas, os momentos oriundos das excentricidades
que surgem devido a cravação das mesmas
provocam uma redistribuição das cargas nas estacas e, também, alteram os
esforços no bloco de coroamento. Por isso é importante
que o engenheiro da obra informe ao calculista esses eventuais erros de cravação,
para que seja feita uma nova verificação do bloco.
Somente no caso de blocos com 2 estacas é que se faz necessário o travamento na
direção perpendicular à reta que une o eixo das
estacas. As vezes não existe outro bloco na direção em que se necessita do
travamento, e tem-se que usar 3 estacas.
No caso de blocos com 1 estaca, pouco utilizados, realmente é necessário o
travamento nas duas direções ortogonais.
Para as funda ções em sapatas, onde o problema, também, seria o recalque
diferencial, vale o mesmo já dito para os blocos.
Neste caso, a utilização de cintas, um pouco abaixo do nível do subsolo ou do
térreo, seria benéfica no sentido de diminuir o
comprimento de flambagem dos pilares, o que pode permitir redução nas
dimensões ou armaduras dos mesmos.
Abraços,
Giordano Loureiro
Fortaleza - CE.
Caro Giordano.
Botando pimenta na peixada cearense, você garante que os engenheiros de fundações, e os
de obras, informarão ao calculista que alguma estaca não foi cravada no local previsto?
Não me atrevo a transferir para terceiros ( no Brasil de terceiro mundo) a solução - sempre
improvisada - de problemas que devem ser previstos nos escritórios de projetos.
Continuo defendendo o meu ponto de vista, respaldado por alguns outros colegas, que essa
pseudo economia poderá gerar sérios problemas que afetam, geralmente - em decorrência de
desaprumos, deformações das estacas, e erros de locação - os 3 a 4 primeiros pavimentos de
edifícios convencionais.
Estou preparando um pequeno trabalho sobre isso e já consultei alguns especialistas em
fundações que recomendam o travamento, sem exceções. Concordo que em blocos sobre
várias estacas - mais de quatro - as imperfeições podem ser absorvidas pelo bloco sem
travamento, mas cada caso é único. Ademais, transferir para o pilar ações parasitas que não
forma previstas, não me apetece.
Abraços caetés
Eng.º Civil Marcos Carnaúba
Sem cintas de travamento – cortina com estacas desaprumadas
Prezado Carnaúba:
Embora esteja longe de ser ou me sentir Mestre, ainda mais neste assunto, como já estou por
aqui às 6 da manhã espantando o sono a 4°C da manhã gaúcha, vou arriscar meu palpite pois
esta situação é preocupante e me parece mais uma "economia porca",como diziam nossos
avós.
O que eu aprendi e sei sobre estaqueamentos é que cada estaca trabalha sozinha, sempre
com seu atrito e seguidamente com sua ponta apoiados em terrenos de diferentes
características, estaca a estaca. Todos sabemos o quão pobre e rara é para nós a informação
sobre o terreno, seguidamente com um "furo" muito distante do outro (vide METRÔ que,
considerado estudadíssimo, deixaria passar tranqüilamente aquele "pedrão" entre duas
sondagens...) e a natureza mudando aleatoriamente. Desta forma, cada estaca terá suas
próprias condições de deformação,acomodação, etc. e cada fenômeno em tempo diferente
após a ação das cargas, que vêm gradualmente se "instalando". Para prever os recalques e a
situação somente com modelos semi-probabilísticos e elementos finitos,simulando as
diferentes situações e "armando" as vigas para a situação mais desfavorável. O resto é loteria.
Como conseqüência, haverão recalques diferenciais de pequena ou grande monta entre as
estacas, repito, cada uma de forma diferente. Quem absorve e equaliza estas deformações,
que iriam potencializadas à estrutura,são as "cintas de travamento" ou "vigas de equilíbrio" que
unem os blocos (e as estacas respectivas) entre si, e assim transmitem, minimizando as
deformações, os recalques e as tensões entre os "pontos de apoio" da estrutura, representado
pelos blocos.
De fato caro amigo, a Engenharia ainda não foi revogada, nem o "marketing" (que a incorpora)
se faz contrariando-a.
Prevejo para esta situação a perda da unidade estrutural na base da obra, com geração de
intensa fissuração e risco de quebra de estacas (invisíveis e inacessíveis) em breve tempo,com
redistribuição aleatória de tensões, o que chamaríamos de "situação caótica" onde valeria
simplesmente, para explicá-las, a Teoria do Caos.
Atenciosamente,
Prezado Marcos
Concordo com tudo que você e o Egydio disseram. Não projetaria nem nunca vi projeto de
estaqueamento sem vigas de travamento e/ou de equilíbrio.
É mais do que loteria querer que o solo seja perfeitamente homogêneo e isotrópico.
Abraços
DAVID AMERICO F.
Cortina com estacas desaprumadas e curvatura visível
às vezes, por existência de taludes ou passagens de galerias não é possível travar um pilar
nas duas direções. Nestes casos, é prudente verificar com o calculista de fundações (se
houver) a folga para a fundação absorver os momentos de "engastamento" e de eventuais
excentricidades construtivas.
mas um ponto mais delicado que esse é o travamento de pilares nos pavimentos de um
edifício, já que existem casos em que não existem vigas passando pelo pilar nas duas direções
e programas tipo TQS consideram um pilar automaticamente travado se existir qualquer
elemento estrutural num determinado nível.
p.exemplo, numa obra de um teatro, existem pilares na fachada de 30m de altura (total) que
são "travados" na direção da fachada por vigas (formando um pórtico) e na direção ortogonal à
fachada, a cada 6m aprox., por uma passarela técnica (em laje em balanço), de uns 10m de
extensão, que funciona como uma "viga horizontal" para travá-lo...
Jairo Fustenberg.
Cortina com estacas desaprumadas e armadura aparente
Prezado colega,
Não sou mestre, mas vou opinar assim mesmo.
Este é um procedimento desejável. Contudo, não o vejo como obrigatório. Basta, apenas,
calcular a estrutura em conjunto sem levar em conta a influência das vigas de equilíbrio.
Concordo que em estruturas prediais este procedimento parece pouco convencional. Contudo,
em algumas situações específicas, aqui na indústria, precisamos abrir mão destas vigas. O que
fazemos é analisar toda a estrutura em conjunto incluindo a interação solo-fundação
simulando, desta forma, os possíveis efeitos dos recalques diferenciais na estrutura.
cordialmente,
Rodolfo Mastrazzi
8-Palmeira,
Inclusive em tubulões?
Marcelo Rios
9-Caro Marcelo,
Um tubulão é um pilar que tomou bastante "bomba", cresceu e está confinado no solo. Esse
solo terá que ter empuxo passivo (horizontal) para resistir aos efeitos dos momentos e cargas
horizontais vindas da estrutura.
Assim teremos que modelar os pilares e os tubulões juntos, considerar o efeito do
confinamento no solo e uma altura igual ao comprimento do pilar mais o do tubulão. Não
acredito que possamos fazer esse cálculo com a segurança desejada, os modelos que
podemos usar não me convencem.
Prefiro assim cintar os pés dos pilares qualquer que seja a fundação.
Abraço
Palmeira
São Luís – MA
Bom dia Ma rcos,
O problema da excentricidade você pode resolver adotando blocos de pelo menos
3 estacas não alinhadas. Assim, se uma delas ficar excêntrica, o bloco tem
condições de absorver, ao invés do baldrame. Nem sempre isso é barato, mas é
um jeito.
Quanto aos recalques, dá pra jogar num aoki-Lopes e considerar seu efeito no
cálculo da estrutura. O método de Aoki-Lopes é de 1974, e é um método
computacional viável de ser usado. O mais importante para a previsão de
recalques é considerar todos os elementos de fundação do prédio. a influência
de um bloco no outro é significativa, mesmo a 5 metros de distância.
A propósito, é comum calcular recalque de um prédio e chegar a valores da
ordem de 2cm de recalque médio, mesmo com fundações profundas.
Armar estaca para resistir à flexão é uma opção também. Porém, existe um
problema. Em muitos casos a estaca até aguenta, mas precisa deformar
consideravelmente para absorver o esforço. E, de qualquer jeito, quem vai
acabar pagando o pato é a estrutura mesmo.
Obviamente é bem diferente uma fundação com estaca broca manual de 25cm e
outra com estacão com lama de um metro e meio. Principalmente no que diz
respeito à rigidez transversal da estaca e aos esforços horizontais e de
flexão que elas podem absorver.
Abraços,
Luiz Henrique Felipe Olavo
Curitiba-PR
11-Caro Luiz
O que você escreve só reforça as vantagens de um travamento nas fundações. A não ser que
sejam estacas só de ponta, estas precisam se deformar, ou seja, recalcar para que tenha sua
resistência lateral mobilizada. Se as estacas vão recalcar, o que é muito provável para não
dizer certo, e possivelmente serão recalques diferenciais devido a diferentes níveis de
solicitações nos diversos blocos e heterogeneidade do solo, o travamento tem como função
tentar equalizar tais recalques, ou pelo menos minimizar suas diferenças antes de transmiti-los
para a estrutura.
Abraços
DAVID AMERICO F.
Caro Carnaúba,
Aqui no Rio e em BH onde trabalhei por uns tempos aprendi a dizer NÂO,
aqui tem um cara famoso "projetando casas para RICAÇOS", não é arquiteto
e nem bom senso tem,a casa de máquinas do elevador de uma destas casas que ajudei a
calcular tinha furado o telhado em cêrca de três metros, a rampa da garagem tinha uma
inclinação de 20%, e o rodador, daqueles do tipo de edifício garagem estava sôbre a adega do
projeto dele, para entrar na mesma só agachado.
então meu amigo fundação sem cintamento, só existe nas cabeças de caras como este teu
cliente e de falsos arquitetos, diga NÂO e pronto
Nem adianta falar em recalque diferencial, porque estes caras querem um diferencial para
menos no custo da obra.
Abraços,
Abelardo Júnior-RJ
13-Prezados Carnaúba e Giordano:
Pois é, o Carnaúba tocou num ponto que considero básico e que me dá oportunidade de
abordar uma questão que volta e meia permeia nas mensagens entre Projetistas: a questão do
que é do Projeto e do que é da obra. Ele diz:
"Não me atrevo a transferir para terceiros (no Brasil de terceiro mundo) a solução - sempre
improvisada - de problemas que devem ser previstos nos escritórios de projetos."
Eu trabalho com algumas situações que envolvem Patologia e Terapia de Estruturas e
apresento Cursos nesta área, de modo que tenho sempre atualizadas as informações de
pesquisas sobr e as possíveis causas dessas patologias. Invariávelmente, as pesquisas
apontam para 40% de responsabilidade em Projetos e 25% em Execução. É mundial! No
Brasil, por força da menor capacitação da mão de obra, este porcental parece contrariar uma
realidade mas não é, é real! Tem mais. Aqui a necessidade do Projetista "conduzir pela mão" a
obra é muito maior, e prevista nas Normas, feitas por quem sabe o que diz (mesmo que alguns
não concordem). Vejam esta estatística que envio anexo, de uma apresentação.
A NBR 6118 tem, no item 5.2.3.3 o seguinte texto: "O projeto estrutural deve proporcionar
as informações necessárias para a execução da estrutura."
Para mim significa que, desde 2003, o Projeto Estrutural deve ser um Projeto Executivo. Isto
significa não apenas o comando do Projeto mas a responsabilidade sobre a Execução, o que
exige fiscalizar se está sendo executado como projetado, além de suprir informações para que
a Execução cumpra o prescrito e supere as necessidades adicionais que sempre surjem,
implicando em adaptações que fazem necessária a disponibilidade de um maior contato entre
obra e Projetista.
Tenho agido desta forma nas obras de que participo. Geralmente a minha atividade começava
mais ligada à Execução e sentindo a dificuldade de ter que definir várias questões que
demandariam um contato com o Projetista. Hoje isto começa mais cedo, na fase de
Planejamento da Execução mas estamos cada vez mais envolvidos com mudanças que
implicam em ajustes no Projeto pois ainda não existe informação de Projeto para fc e Eci para
as movimentações de formas e escoramentos, conforme exige a Norma. Definido que isto é
responsabilidade de Projeto, temos que envolver o Calculista e temos que ser co-participantes
do Projeto, suprindo o escopo da Tecnologia do Concreto, que ainda não está vindo nos
Projetos atuais.
Mas aí vem um outro aspecto: desgaste devido às solicitações, pois o Calculista não está
habituado a este nível de solicitação. E se diz "não remunerado" para isto, o que às vezes é
evidente, sem contar que "no geral", pouquíssimos profissionais conseguem "se sentir
remunerados" à altura de suas atividades.
O fato é que, nobremente, temos que reconhecer que a "inteligência" da obra está no Projeto e
que a Execução, por mais inteligente que seja, não pode contrariar nem interpretar
equivocadamente o Projeto, o que dá no mesmo: depende e se sujeita ao Projeto.
Para finalizar lembro uma mensagem das Comunidades há uns 3 anos atrás. Um colega
Calculista pediu ajuda aqui pois ele havia projetado um reservatório e o Contratante teria
informado a ele que o construtor decidira "concretá-lo todo em um dia e retirar todas as formas
7 dias depois"... Pelo tom de súplica deduzi que o Projeto não previa esta condição, óbvio!
Aconselhei-o a sugerir refazer o Projeto para esta condição nova, evidentemente com nova
remuneração. O preocupante é que, na primeira versão do Projeto dele,certamente não estava
o "como fazer" e aí,dizer depois "como não fazer" também não está escrito e daí,como cobrar
por uma "mudança" que não existe?
Para mim esta situação mostrou o acerto da linha de pensamento das Normas: quem define, o
modo e inclusive o ritmo da Execução, é o Projeto. Fazer diferente é traduz uma "liberdade"
incompatível com as responsabilidades envolvidas..
Desculpem a extensão da mensagem.
Egydio Hervé Neto
D.T. Ventuscore
Sobre o problema de cintas de blocos de estacas em edifícios gostaria de comentar o
seguinte, especificamente para o caso de:
- não precisar de cintas para apoio de alvenarias
- não precisar de lajes de piso em solos recalcáveis
- não precisar d e lajes com subpressão.
Vários problemas devem ser levados em conta no projeto de cintas:
a- As estacas quase nunca estão no lugar projetado
b- As estacas verticais podem apresentar desvios de verticalidade
c- Os "comprimentos de flambagem" dependem da rigidez das fundações
d- No caso de estacas isoladas é impossível garantir a continuidade geométrica da estaca para
o pilar, o mesmo ocorrendo com fundações de duas estacas.
e- As análises de segunda ordem devem levar em conta a flexibilidade das fundações a
rotações
f- No cálculo modernos, a determinação dos efeitos de segunda ordem é feita por meio de
análise não linear geométrica aproximada (sem os efeitos "corretos" de não linearidade
física) com rigidezes minoradas aproximadas de acordo com a NBR6118. Os momentos
obtidos precisam ser introduzidos no projeto de fundações. Por exemplo, usando o processo
dito P-delta do SAP que na realidade é uma análise não linear geométrica elástica.
h- Para os pilares periféricos vigas de equilíbrio quase sempre são necessárias.
Em cálculos rápidos e feitos sem muita sofisticação, portanto, sem a consideração destes
efeitos todos, as cintas podem resolver e eliminar vários destes efeitos indesejáveis.
No caso de pilares muito afastados entre si e com fundações com mais de 2 estacas e desde
que o dimensionamento leve em conta a flexibilidade das fundações, não vemos porque usar
cintas.
Assim vale a regra: cada caso é um caso. Não se pode criar regras gerais para todos os
casos.
Ernani Diaz-RJ
21-Cintas em Edifícios:
Carnaúba:
Após a nossa conversa telefônica, como costumo trabalhar com este problema de cintas em
edifícios, vou dar a minha opinião.
Costumo fazer fundações com 3 ou mais estacas, e quando uso 2 estacas coloco cinta
transversal nas mesmas. Não há firma no mundo que garanta a execução de todas as estacas
sem erros (pequenos ou grandes) de locação. Dependendo do terreno uso cinta em qualquer
caso: em terreno bom, estaca isolada com cintas em 2 direções e estaca dupla, cinta no
sentido transversal.
Infelizmente muitos calculistas de fundação acham que podem fazer fundações com uma
estaca por economia, e que o problema de excentricidade é do executor ou do calculista.
Quando isto acontece comigo, eu devolvo a responsabilidade para ele informando o que está
acontecendo, e que ele (especialista de fundação), deve dar uma solução. Quando sou
obrigado a engolir um caso deste, aviso que vou fazer viga de equilíbrio e que vai ficar mais
caro.
Não entendi a dúvida do pessoal de fundação que não vai dar as informações corretas dos
deslocamentos (locação correta). Eu peço ao dono da obra esta informação, com uma carta
informando que a responsabilidade é do construtor e do projetista de fundação. Eu
normalmente recebo as excentricidades das fundações, calculo as reações de cada estaca
com as excentricidades reais e o especialista de fundação aprova. Isto tudo por escrito.
O Ernani, mais uma vez, demonstra que conhece isto que a gente chama de engenharia.
Cintas em paredes, em lajes em terreno recalcável e laje de subpressão. Toda esta verificação,
eu faço dentro do meu preço, pois quero ter tranqüilidade nas obras que calculo.
Carnaúba, se eu esqueci algo falado no telefonema, favor completar.
Abraços,
Bruno Contarini-RJ
22-Caro Carnaúba,
Desculpe a demora. Vou comentar sobre “Consulta aos Mestres – blocos de estacas”
Vejo que o assunto focaliza principalmente questões de travação de blocos sobre grupos de
estacas em fundações de edifícios comuns, de altura media.
Aqui nos E.U.A. não colocamos vigas ou elementos horizontais de amarração (cintas) para
travar possíveis movimentos laterais de blocos de estacas a não ser que o calculo peça isso.
Certamente só colocaria tais elementos se houver força horizontal proveniente da ação do
vento (ou sísmica) ou pela pura necessidade de travar a estrutura devido a excentricidades
acidentais das forças verticais. Usamos paredes (shear walls, concreto ou alvenaria), pórticos
-Prezado Carnaúba.
Li (HOJE) todas as mensagens e comentarios que voce recebeu sobre este seu trabalho.
Estavam lá o Ernani, o Bruno, o Egydio, o Giordano o Palmeirão e tantos outros belos
engenheiros de estrutura com muita experiência no assunto.
Em vista disto faço, os meus comentários da forma que segue:
Em 1967, O Dirceu Velloso (que já não esta mais conosco mas vive a ter espasmos no Céu) e
o Nelson Aoki que anda lá pela Universidade de São Carlos diziam : Cinta TUDO nos dois
sentidos do pilar.
Amarra tudo nos dois sentidos do pilar. NÃO IMPORTA QUANTAS ESTACAS TENHAM O
BLOCO.
NUNCA TIVE PROBLEMA DE ORDEM ALGUMA COM FUNDACÃO EM TODA A MINHA
VIDA. PORTANTO MINHA RESPOSTA AO
SEU TRABALHO É CONCORDO em amarrar a estrutura toda no nivel do topo dos blocos.
SEM MAIS
GODART SILVEIRA
Prezados C olegas
Vou tomar a liberdade e, com muito atraso, colocar minha vivencia com o assunto VIGAS DE
TRAVAMENTO.
O bloco de concreto simples, a sapata isolada e o bloco sobre uma estaca ou sobre estacas
alinhadas atendendo a NBR 6122/96 precisam de travamento ortogonal.
O travamento ortogonal pode formar um reticulado capaz de melhorar a distribuição de forças
horizontais e até de absorver, de distribuir, os recalques diferenciais que não afetam as
estruturas.
As estacas isoladas deveriam ser evitadas principalmente as que suportam pilares de canto.
Os pilares que se apóiam sobre um bloco de concreto simples, sobre uma sapata isolada, em
um bloco sobre uma estaca ou sobre estacas em linha podem, quando de sua relocação dar
origem a excentricidades que produzem momentos que poderão não ser suportados pelas
referidas peças estruturais projetadas para cargas verticais centradas.
As estacas isoladas, os fustes de tubulões que são projetados para suportar esforços
horizontais, fletores e cargas verticais, oriundas do projeto estrutural, que não são travadas
ortogonalmente por vigas apropriadas, desenvolverão fletores que podem ser maiores que os
indicados no projeto estrutural, são calculados em função dos coeficientes de reação horizontal
e vertical ( CRV e CRH ) é a interação estrutura/fundação.
Os valores de CRV e CRH normalmente deveriam ser obtidos com pesquisas especializadas e,
sendo objetivo, sabemos que de um modo geral são obtidos por correlação através de
sondagens SPT, determinando os prováveis recalques das fundações, o que representa um
trabalho de característica muito pessoal. As vigas de travamento têm um papel muito
importante na segurança das estruturas.
Os blocos que estão sobre 4 estacas ou 4 fustes ou mais, entendemos que são capazes de
fazer as vezes das vigas de travamento, entretanto os blocos sobre 3 estacas ( em triangulo )
entendo que não substitui a viga de travamento. Por outro lado, os blocos sobre estacas raiz,
micro estacas, estacas de trilho ( 3T e 4T ) entendo que também não substituem as vigas de
travamento. Mesmo que no projeto estrutural as cargas indicadas para execução das
fundações sejam somente verticais, as vigas de travamento devem ser projetadas.
Abraços
Marcello da Cunha Moraes Brasília DF
26-Caros colegas,
Fiquei feliz com essa mensagem. Fui o primeiro dos que defenderam as vigas de travamento,
sempre as defendo, e parece que pessoa de meu maior respeito também usa esses elementos
em senão todos, quase todos os casos.
Abraços
Palmeira
São Luís – MA
27-Prezados Colegas
Estamos voltando sobre o assunto vigas de travamento, agora com certa preocupação
referindo-se ao concreto usado nas estacas: straus, escavada, escavada hélice contínua e
tubulões considerando as limitações prescritas, obrigatórias, constantes da NBR 6122/96. As
vigas de travamento são de real importância quando se usa fck menor ou igual a 15MPa, uma
vez que podem reduzir os valores dos momentos atuantes nas peças de fundação. A NBR
6122/96 estabelece o fck máximo do concreto para efeito da determinação da carga admissível
das peças estruturais das fundações. Estabelece também os coeficientes de minoração da
resistência mecânica e física do concreto ( gama c )ou seja, p.e.:
Estaca broca ( trado ) muito usada em estrutura de residências
· consumo de cimento maior ou igual a 300kg/m³;
· fck menor ou igual a 15MPa e o mesmo valor para determinar a carga admissível;
· Gama c= 1,8
Estaca Straus
- - consumo de cimento maior ou igual a 300kg/m³
- - fck maior ou igual a 15Mpa e para carga admissível menor ou igual a 15MPa;
- - gama c =1,8
Tubulão a céu aberto não revestido
- - sem restrições. Tem sido usado de 15MPa a 20MPa, gama c=1,6
Estaca hélice contínua
- - consumo de cimento maior ou igual a 350kg/m³
- - fck menor ou igual a 20Mpa e o mesmo valor para carga admissível
- - gama c=1,8.
A preocupação se prende ao fato do concreto armado com fck = 15MPa pode ser muito poroso
e as peças estruturais sujeitas a esforços horizontais, fletores e cargas verticais, podem
apresentar corrosão e, na maioria das vezes, nunca são visitadas. É preciso lembrar que
quando a NBR 6122/96 especifica 6Mpa refere-se tão somente a carregamento vertical. Não
precisamos correr riscos e como parece que está difícil a ABNT apresentar a nova NBR 6122,
poderia apresentar um adendo de norma melhorando as características físicas e mecânicas do
concreto. As vigas de travamento, com certeza, ajudam em muito o comportamento dos
elementos estruturais das fundações.
Abraços
Marcello da Cunha Moraes-Brasília DF
28-Este problema levantado pelo Marcos Carnaúba tornou-se interessante pela diversidade de
opiniões apresentadas.
A coletânea de opiniões feita pelo Marcos Carnaúba acabou se tornando um resumo de uma
mesa redonda onde todos puderam opinar.
Ao final das discussões o conjunto das opiniões acabou se tornando um documento
interessante.
Cientificamente é difícil avaliar o resultado das diferentes estruturas adotadas, sob o ponto de
vista de segurança, ou seja, a probabilidade de ruína.
Na verdade, uma análise de risco pode ser feita mas com custos elevados de análise e de
avaliação da probabilidade de ruína.
Cada engenheiro de estruturas ao tratar o assunto num seu projeto deveria ler as diversas
opiniões e decidir o que fazer, pois a responsabilidade ao final é do projetista.
Ernani Diaz
29-Prezado Marcos,
Quando vc divulgou o seu belo e custoso trabalho, tive interesse em participar, mas o tempo
não me permitiu ler todoo trabalho e, confesso, ainda não o fiz por completo, mas dei uma
"olhada" geral e ficou muito bom.
Não enviei-lhe ainda o meu "concordo", pois fiquei com uma pequena dúvida e gostaria de
apontá-la agora.
Em anexo, coloco uma imagem da página 3/5. No bloco sobre duas estacas, vc coloca vigas
impositivas nas duas direções. Eu, pessoalmente, só coloco de forma impositiva a viga
transversal ao sentido maior onde há duas estacas alinhadas. Não vejo a outra (no sentido X)
como obrigatória. Entendo que se o pilar ficar desalinhado, os momentos gerados poderão ser
absorvidos pela outra cinta (sentido Y) e pelo binário gerado pelas duas estacas no sentido X.
Gostaria de seus comentários e dos demais colegas que desejarem.
Obrigado,
Robson R. Campos
Rio de Janeiro
30-Caro Carnaúba,
Você é um profissional que admiro pela garra e incansável vontade em ir avante e
não deixar nada sem uma boa resposta!
Por este motivo, me sinto impelido em comentar um pouco o que você abordou e , se possível,
acrescentar algo.
No meu ponto de vista o travamento para fundações de pilares sobre elementos de fundação
profunda unitários deve ser travado sempre que o diâmetro da estaca é pequeno (menor do
que hpil/3, com hpil a maior dimensão do pilar) ou quando houver momento fletor de equilíbrio
aplicado à esta fundação. Evidentemente, nos casos de excentricidade executiva deve-se
também “travar”a fundação na direção do deslocamento de forma a absorver o esforço de
flexão correspondente.
Porém, deve-s e tomar cuidado com este procedimento, uma vez que a rigidez da viga deve ser
de tal ordem a que possa concorrer com a rigidez da estaca e do pilar à flexão e mesmo assim
resultar algum momento fletor considerável para seu dimensionamento. Portanto, o problema é
a rigidez do conjunto ‘q que manda e não a capacidade ao ELU da viga dimensionada para o
momento de desequilíbrio.
Espero ter colaborado!
Um abraço paulistano,
Francisco Paulo Graziano-SP
31-Prezados Colegas
Atendendo solicitação do Engº Jorge Cavalcanti Carvalho vamos apresentar os critérios
práticos que usamos normalmente no que se refere ao dimensionamento de vigas de
travamento.
1 -Viga de travamento
bw ³ l/25 ³20cm e h ³ l/12³35cm sendo l vão da viga
Armadura longitudinal
Será obtida dimensionando a viga como se fosse um pilar bi-rotulado, compressão centrada,
recebendo um carregamento igual 10% do carregamento do pilar que está sendo travado. As
armaduras longitudinais serão posicionadas nas faces superior e inferior da seção. Devem ser
usados estribos mínimos e ferragem mínima de pilar.
2 -Vigas centradoras como dizem os espanhóis
Ocorrendo excentricidade entre o centro da peça de fundação e o centro do pilar a ferragem
longitudinal, no caso, deverá ser obtida através do fletor dado pela expressão:
Md=[K1/(K1+K2)](M+Ne)f onde
K1, K2 :são as rigidezes das vigas que chegam no bloco ou sapata
M : momento na direção da viga
N : carga de serviço trazida pelo pilar
e : excentricidade do carregamento em relação ao eixo da peça de fundação
Gama f : coeficiente de majoração
l : vão da viga.
Os estribos serão calculados através da expressão Vd = Md/l atendendo o mínimo indicado
pela NBR 6118/03.
Perguntas e resposta ao Colega Jorge Cavalcanti Carvalho
1 – admitindo que o bloco tenha altura infinita i. é quando as cargas nas estacas alinhadas são
praticamente iguais a excentricidade será a que ocorrer entre o bloco e o pilar
2 – F. ver o item 2 desta msg
2.1 – Considerar a viga como contínua desconsiderando o solo
Obs.: Não usamos estacas alinhadas p. e. 3 estacas a não ser para pilares de divisa , no caso,
de viga alavanca, viga de equilíbrio
S/n em que nível.... procuro posicionar a viga, sua face superior, coincidindo com a face
superior do bloco sobre estaca. No caso de sapatas levar a viga de travamento no pilar e ai o
toco de coluna será calculado para essa situação.
As expressões que aparecem no item 2 desta msg são do livro Hormigon Armado do
Professor Álvaro García Meseguer.
Abraços
Marcello da Cunha Moraes-Brasília DF
32-Caro Carnaúba
O trabalho por você apresentado é bastante didático, abordando de forma objetiva as questões
de excentricidades nos planos de conjuntos de estacas e tubulões, oriundas de "erros" ou
dificuldades executivas.
Ainda no âmbito das questões executivas, pode-se acrescentar diferenças no alinhamento
vertical das estacas (ver figura 1 anexa), também resultando em solicitações diferenciadas.
Pode-se também acrescentar dificuldades inerentes as investigações de projeto, que na prática
são pontuais, existindo sempre a possibilidade das fundações serem assentes em solos de
diferentes comportamentos (ver figura 2 anexa) sem ser detectada.
Assim comungo da mesma conclusão sua. Nas edificações comuns, particularmente para
casos de até 3 estacas e fundações superficiais, é recomendável que tais situações sejam
"equilibradas" ainda no nível das fundações através de vigas de travamento e equilíbrio antes
de transmiti-las para as demais estruturas. David Américo F. Oliveira – Austrália
Fórum Clube dos Engenheiros Civis