A física Neide M. N. Sato, doutora em Engenharia Civil e pós-doutoranda em Materiais na Escola Politécnica da USP, conta neste suplemento um pouco da historia da evolução da subcobertura no Brasil. A professora participa ainda ativamente das discussões e redações de normas no mercado.
Mais Arquitetura- Quando o assunto subcobertura começou a despertar interesse no Brasil ?
Neide Sato - Em 1995, quando alguns dos principais importadores , procuraram o Institudo de Pesquisa Tecnológica do Estado de São Paulo (IPT) e solicitaram a realização de testes, visando à formação de uma base gerada aqui. E essa base era muito importante para o desenvolvimento do mercado.
MA ? No Brasil, em Berlim ou em Nova Iorque as funções básica de uma subcobertura são as mesmas ?
Neide Sato ? De uma maneira geral a subcobertura possui dupla função: térmica e drenagem de água. E para atender a essas duas finalidades, o produto precisa ter emissividade adequada e ser estanque à água . E, além disso, reunir uma série de outras características : ser durável, não propagar fogo, não deixar proliferar microorganismos, etc. Foi com essa finalidade que em 1995 importadores pioneiros procuraram o IPT, a fim de que o instituito realizasse estudos.
MA ? Como a subcobertura atua para isolar termicamente ?
Neide Sato ? Na questão da isolação térmica, seja em pequenos ou grandes projetos pensamos em isolar termicamente o ambiente com uso da subcobertura, queremos evitar a transmissão de calor pela cobertura por radiação. Para isso, a superfície da subcobertura deve ter uma alta refletância á radiação térmica e, conseqüentemente, uma baixa emissividade.Por esta razão, as subcoberturas normalmente são constituídas de alumínio polido. Quando instaladas apropriamente entre o telhado e o forro, com a parte brilhante voltada para telhado, reflete grande parte do calor incidente para fora da cobertura. Quando disposta ao contrário, emite para o forro apenas uma pequena parcela da energia térmica recebida pelo telhado. É diferente quando empregamos uma lã de rocha, um poliuterano ou poliestireno expandido (isopor), que aprisionam um grande volume de ar em poros muito pequenos. O ar é muito mais isolante do que os materiais sólidos (plásticos, fibras de vidro, ou fibras de rocha). Porem, não é qualquer ar que é isolante . Se fosse esse o raciocínio, um bloco de concreto vazado serviria como isolante térmico. É imprescindível que os poros sejam pequenos para não transmitir calor por convecção .
MA- O Brasil assimilou bem esse conceito ?
Neide Sato ? Agora o mercado está começando a entender. Entretanto,as pessoas sempre pensam em reflexão do calor. Mas, a subcobertura que vai diminuir a transferência de calor por radiação funciona também por sua baixa emissividade.
MA- E por que o alumínio ?
Neide Sato - Pelo custo. Mas, como diz a pesquisadora Maria Akutsu, do IPT, poderíamos usar ouro (risos), que também tem uma baixa emissividade.
MA- Que parte da película deve ficar voltada para cobertura ?
Neide Sato ? Por recomendação técnica, aconselhamos aos aplicadores a deixarem a parte brilhante da manta de alumínio virada para baixo, para evitar o acúmulo de poeira na superfície. Isso se o material tem um lado só com baixa emissividade.
MA ? E como podemos medir a emissividade de uma subcobertura ?
Neide Sato ? Em 1995, no Brasil, não tínhamos como medir essa propriedade. Embora essa tecnologia já estivesse disponível lá fora, era interessante que nós tivéssemos capacitação própria para avaliar os produtos importados. Era uma garantia a mais para o material comercializado aqui. Foi quando implantamos no laboratório de Física dos Materiais, dentro da Divisão de Construção Civil do IPT, capacitando o instituto para esta medição. Entre os colegas que participaram desse projeto encontrava-se o doutor Fúlvio Vitorino.
MA ? Quais foram as principais conclusões daqueles primeiros estudos ?
Neide Sato ? A emissividade é uma característica da superfície. Os valores encontrados dependem muito do tipo de superfície. Em 1995 tinhamos o alumínio, que tem valores de emissividade específicos. Com o tempo apareceram outros materiais no Brasil. Foi quando observamos que nem tudo que é brilhante proporciona baixa emissividade. Por exemplo, aquele papel que reveste a bala é brilhante. Entretanto,ele reflete bem a luz visível, mas nem tanto a radiação térmica. Quer dizer que esse mesmo papel de bala não serve para barrar a radiação térmica.
MA ? O Brasil está servido de textos técnicos que orientem importadores, arquitetos, engenheiros e instaladores no Brasil ?
Neide Sato ? Não. Mas pelo menos temos um texto em discussão na Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT). É o Projeto de Normas Técnicas (ABNT). É o projeto de Normas 35:000.04-009 (Alumínio e suas ligas ? Barreiras radiantes para uso em edificações ? Especificação). E também está sendo discutido na Comissão de Estudos ABNT CE 02.136.01 um conjunto de textos normativos que especificam os requisitos de Desempenho para Edifícios Habitacionais de até Cinco Pavimentos. Sou a secretaria dessa comissão. Uma das partes desta normas estabelece todos os requisitos para uma cobertura, incluindo a subcobertura.
MA ? Como o Projeto de Norma 35:000.04-009(Alumínio e suas ligas- Barreiras radiantes para uso em edificações ? Especificação) e o trabalho da Comissão de estudos ABNT CE 02.136.01 (Desempenho de Edifícios Habitacionais) vão se complementar na pratica?
Neide Sato ? Tem de se complementar, obrigatoriamente. A diferença é que o Projeto 35:000.04-009 é especifico para o produto, e a 136 CB2 envolve a
cobertura como todo, incluindo a aplicação da subcobertura .
MA ? A senhora deixou evidente a preocupação com o fator emissividade. No Projeto 35:000.04.009, qual o nível de emissividade que a futura norma determinará para as mantas de alumínio para subcobertura ?
Neide Sato ? A normas internacionais falam em 10% . O Projeto de Norma 35:000.04.009-Aluminío e suas ligas ? Barreiras radiantes para uso em edificações ? Especificação determina um valor máximo de emissividadede 15%
MA ? Em 1995, arquitetos e engenheiros não tinham como especificar subcoberturas porque não havia uma demanda que justificasse. Nesse quase 10 anos a senhora acha que essa cultura já se estabeleceu?
Neide Sato ? Acho que sim. E não só do ponto de vista técnico. Um parente meu do Mato Grosso ligou outro dia perguntando qual a especificação técnica correta de uma subcobertura para o telhado de sua casa. Outro exemplo: tenho dois irmãos engenheiros civis que sempre me consultam sob o mesmo tema. Meu tio que mora em Maringá (PR) ficou chateado porque não pode colocar uma subcobertura em sua casa. São exemplos pontuais, mas que revelam uma mudança de comportamento.
MA - Ainda que o uso da subcobertura visando à questão térmica justifique a relação custo-beneficio, no Brasil esse é um preço que a construtora ou cliente talvez não esteja disposto a pagar nos projetos populares. Qual a solução que a senhora vê para problema ?
Neide Sato ? Sempre defendemos a idéia de que a edificação deve atender ás necessidades dos usuários, incluindo o conforto térmico. Não estou informado a respeito de preços dos produtos disponíveis no mercado, mas devem ser analisadas todas as alternativas para melhorar as condições térmicas do ambiente, incluindo, além da subcobertura, o uso de tintas de cor clara no telhado, os materiais alternativos como as subcoberturas de embalagem Tetrapak e ainda forro tradicionais.
MA ? A senhora falou em tintas, é realmente eficiente usar algum tipo no telhado para evitar a transmissão de calor ?
Neide Sato ? Com certeza. É uma outra forma de isolamento térmico eficiente para locais quentes. No exterior já existem até certificações específicas para estes produtos. Nos Estados Unidos há uma certificação como nome de Energy Star, concedida a produtos eficientes do ponto de vista energético. Um grande número de tintas para telhado, chamadas de reflective roof products, tem esta certificação. Penso que estes produtos teriam muitas aplicações aqui no Brasil.
MA ? Que coberturas justificariam, aqui no Brasil, em esse tipo de tinta para refletir a radiacão solar ?
Neide Sato - O Centro de Convenções Anhembi (SP) é o caso típico de uma grande área coberta, com uma superfície horizontal enorme que recebe muito calor.
Fonte: http://www.gib.com.br