A captação da água da chuva é uma prática muito difundida em países como a Austrália e a Alemanha, onde novos sistemas vêm sendo desenvolvidos, permitindo a captação de água de boa qualidade de maneira simples e bastante eficiente em termos de custo-benefício. A utilização de água de chuva traz várias vantagens (Aquastock, 2005):
• Redução do consumo de água da rede pública e do custo de fornecimento da mesma;
• Evita a utilização de água potável onde esta não é necessária, como por exemplo, na descarga de vasos sanitários, irrigação de jardins, lavagem de pisos, etc;
• Os investimentos de tempo, atenção e dinheiro são mínimos para adotar a captação de água pluvial na grande maioria dos telhados, e o retorno do investimento ocorre a partir de dois anos e meio;
• Faz sentido ecológica e financeiramente não desperdiçar um recurso natural escasso em toda a cidade, e disponível em abundância todos os telhados;
• Ajuda a conter as enchentes, represando parte da água que teria de ser drenada para galerias e rios;
• Encoraja a conservação de água, a auto-suficiência e uma postura ativa perante os problemas ambientais da cidade.
Algumas cidades brasileiras já transformaram em lei a captação da água pluvial.
A lei municipal de Curitiba-Paraná nº. 10785 de 18 de setembro de 2003 diz que1:
"Cria no Município de Curitiba, o Programa de Conservação e Uso Racional da Água nas Edificações - PURAE."
Art. 1º. O Programa de Conservação e Uso Racional da Água nas Edificações – PURAE tem como objetivo instituir medidas que induzam à conservação, uso racional e utilização de fontes, usuários sobre a importância da conservação da água.
Art. 7º. A água das chuvas será captada na cobertura das edificações e encaminhada a uma cisterna ou tanque, para ser utilizada em atividades que não requeiram o uso de água tratada, proveniente da Rede Pública de Abastecimento, tais
como:
• Rega de jardins e hortas,
• Lavagem de roupa;
• Lavagem de veículos;
• Lavagem de vidros, calçadas e pisos.
Art. 8º. As Águas Servidas serão direcionadas, através de encanamento próprio, a reservatório destinado a abastecer as descargas dos vasos sanitários e, apenas após tal utilização, será descarregada na rede pública de esgotos.
Em São Paulo, a lei estadual N.º 12526 de 2 de janeiro de 2007 pronuncia2:
“Estabelece normas para a contenção de enchentes e destinação de águas pluviais”.
Artigo 1º- É obrigatório a implantação de sistema para a captação e retenção de águas pluviais,coletadas por telhados, coberturas, terraços e pavimentos descobertos, em lotes, edificados ou não, que tenham área impermeabilizada superior a 500m2 (quinhentos metros quadrados).
Existe ainda a norma NBR-15527, Água de chuva – Aproveitamento de coberturas em áreas urbanas para fins não potáveis – Requisitos, instituída em setembro de 2007 pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), que prevê, entre outras coisas, os requisitos para o aproveitamento da água pluvial coletada em coberturas de áreas urbanas e aplica-se a usos não potáveis em que as águas podem ser utilizadas após o tratamento adequado.
O uso da água de maneira mais eficiente protege o meio ambiente, economiza energia, reduz os investimentos em infraestrutura, ocasionando melhoria dos processos industriais. O uso eficiente da água representa uma efetiva economia para consumidores, empresas e a sociedade de um modo geral.
Critérios de Qualidade da Água para Reuso Quando se deseja reaproveitar a água da chuva, para qualquer fim específico, é importante saber que sua aceitabilidade depende diretamente de suas qualidades físicas, químicas e micro bióticas, podendo estas serem afetadas pela qualidade da fonte geradora, da forma de tratamento adotada, da confiabilidade no processo de tratamento e da operação dos sistemas de distribuição (Crook, 1993).
Os critérios de qualidade para o reuso da água são baseados em requisitos de usos específicos, em considerações estéticas e ambientais e na proteção dasaúde pública (Ramos, 2005) Dependendo da utilização, os critérios para a qualidade da água incluem os seguintes aspectos:
• Proteção à saúde da população: A água para reuso deve ser segura para o fim pretendido.
• Percepção da população e/ou do usuário: A água deve ser percebida como segura e aceitável para o uso pretendido e os órgãos de controle devem divulgar tal garantia. Esta diretriz pode ocasionar a imposição de limites conservadores para a qualidade da água por parte dos órgãos de controle.
Segundo Organização Mundial da Saúde (OMS, 1973) os critérios de saúde para o reuso potável definem que não deverá existir nenhum coliforme fecal em 100ml.
Sistemas de Reaproveitamento da Água da Chuva O reaproveitamento eficiente da água da chuva é muito simples, só são necessários alguns pequenos cuidados que tornam os sistemas mais seguros e de fácil manutenção. Abaixo se encontram os passos a serem seguidos na montagem do sistema de reaproveitamento da água
1. Dimensionamento do Sistema
O primeiro passo para o reaproveitamento eficiente da água da chuva é o dimensionamento do sistema ideal para cada caso, a partir das necessidades e objetivos do usuário, da área de captação e das características da construção.
É necessária a coleta de informações e levantamentos no local.
2. Modelo do Sistema
O segundo passo é definir o modelo do sistema de reciclagem, que pode ser feito de várias formas diferentes. Eles podem variar desde linhas que utilizam cisternas e filtros subterrâneos e apresentam soluções mais completas de reciclagem de água de chuva, às linhas mais simples, que utilizam filtros de descida e caixas d'água acima do nível do solo.
3. Fornecimento de Componentes
Com base no dimensionamento e na definição dos objetivos e características do sistema a ser implantado, o fornecedor especifica, integra e fornece os diversos componentes necessários. O principal componente a ser especificado nesta etapa será o filtro por onde a água passará antes de ir para o reservatório.
4. Instalação do Sistema
A instalação fica por conta do fornecedor, que deve dispor de pessoal especializado para realizar a instalação de todos os componentes hidráulicos e também elétricos (no caso de utilização de bombas) dos sistemas
Demostração dos aparelhos do sistema de captação da água:
A água captada pela calha segue para um filtro, eliminando folhas e detritos.
Armazenada numa cisterna, é protegida da luz e do calor para evitar a proliferação de fungos e bactérias. Uma bomba direciona a água limpa até a caixa. O sistema, paralelo ao da rede pública, se destina a descarga de banheiros, lavagem de roupas e torneiras externas.
De acordo com o ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, o modelo de cisterna que está sendo utilizado foi inventado na década de 1960 por um pedreiro da cidade de Simão Dias, em Sergipe, chamado Manoel Apolônio de Carvalho.
Ele substituiu os tijolos por placas de cimento pré-moldadas e concebeu uma cisterna redonda, na qual a pressão da água diminui e evita rachaduras. Uma calha instalada ao redor de todo o telhado conduz a água a um só canto, de onde um cano a conduz até a cisterna. Antes de ser armazenada, ela passa por peneiras para retenção de folhas e outras sujeiras.
A cisterna é construída com cimento seco em moldes de madeira. Depois de montada, ela é amarrada com arame galvanizado e recebe acabamentos interno e externo. Uma parte fica enterrada no solo, para manter a água fresca, e a outra fica acima do chão, tampada.
Sequência de execução de uma cisterna. Fonte: http://www.o2engenharia.com.br
Esta cisterna apresenta as seguintes características:
• Material: placas de concreto;
• Volume: 15 m³
• Diâmetro: 3,50m;
• Altura: 1,50m;
Captação de águas da chuva através de cisterna no nordeste. Fonte: Iconografia Moderna A importância da construção de cisternas na Região Nordeste
A construção de caixas de água semi-enterradas no solo (como as cisternas), para armazenar água no período de chuvas e utilizar na seca, é uma das melhores formas de atender às famílias que vivem em regiões secas.
O Semi-Árido brasileiro abrange uma área de 868 mil km², que vai do norte dos estados de Minas Gerais e Espírito Santo até o sertão nordestino (Bahia, Sergipe, Alagoas, Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte, Ceará, Piauí) e sudeste do Maranhão.
Segundo a Febraban, estima-se que vivam aproximadamente 8 milhões de pessoas na área rural dessa região, o que a torna o semi-árido mais populoso do mundo.
Nessa região chove em média 700 a 750 milímetros por ano e a maior parte dessa água se perde por evaporação. A solução mais antiga utilizada — a construção de açudes — ajuda, mas não é a ideal: dispersas em casas na imensidão do agreste, as pessoas perdem horas caminhando para
conseguir chegar até a água.
Como a maior parte da água do açude se evapora, no final do estio o que sobra é uma água lamacenta, que é disputada por pessoas e animais, e que, por isso, transmite inúmeras doenças.
Armazenada numa caixa fechada no quintal da família, a água quase não evapora. Os próprios chuva por ano é possível garantir água suficiente, para beber e cozinhar, a uma família de cinco pessoas. Fonte:
Portal de Extensão - UFAL: Aproveitamento Das Águas Pluviais