Technorati Marcas: Salitre,Cimento,Pozolanico,Portland,Sal,Umidade e sal,impermeabilização de parede
Com a presente nota pretende-se contribuir para a resolução de um problema
por demais conhecido, sobre o qual nos debruçámos tentando perceber as razões e
procurar soluções para a sua resolução.
Todos já nos apercebemos que na generalidade das paredes exteriores e em
algumas paredes interiores, normalmente junto ao solo, ao fim de algum tempo após
a sua pintura, a tinta se solta em pequenas ou grandes lâminas e que à medida que o
tempo avança essas lâminas acabam por desprender-se e cair conforme é visível na
figura seguinte.
O mesmo acontece com os pavimentos ou revestimentos cerâmicos ou outros,
que sendo ou não vidrados têm um comportamento idêntico ou seja, ao fim de algum
tempo começam por “esfarelar” ou, se tratados com produtos impermeabilizantes,
ceras, vernizes ou tintas, a camada superficial normalmente muito fina, começa por
soltar-se e mais tarde acaba por aparecer um pó solto, constatando-se que estes
materiais estão a desfazer-se superficialmente. Vide Fig. 2.
Este fenómeno acontece também com o próprio cimento Portland, com ou sem
tratamento superficial ou mesmo com revestimentos de pedra ou outros materiais
porosos, nomeadamente com mosaicos hidráulicos.
Normalmente quando consultado o construtor ou o pedreiro que executou a
obra, ouvimos invariavelmente a mesma resposta:
É salitre provocado pela humidade e pelas areias contaminadas com sal do mar
que foram utilizadas na argamassa.
Com esta resposta/informação pretende-se simultaneamente afirmar que as
areias que foram adicionadas ao cimento estariam contaminadas com sal e que a
responsabilidade deste fenómeno negativo não é sua, porquanto não sabe a origem
das areias em causa e não tem processo de avaliar a quantidade de sal que as areias
eventualmente possam ter na sua constituição.
Nada mais errado que atribuir ao sal a principal origem de tal fenómeno
químico.
Igualmente, é costume atribuir aos materiais de revestimento uma
qualidade inferior para explicar tal fenómeno. Outro erro.
Sendo certo que o sal incorporado na água de amassadura ou nas areias não
contribuem para este fenómeno, ou fazem-no de forma reduzidíssima, importa
perceber então qual a origem do problema.
É o que tentarei esclarecer a seguir.
Na generalidade das obras é utilizado o Cimento Portland e muito poucas
pessoas, incluindo inúmeros técnicos de construção, sabem da existência de um
outro cimento que é o Cimento Pozolanico, embora este exista desde a Antiguidade
Clássica (Egipto, Síria, Grécia e Roma) e mesmo de tempos mais remotos
nomeadamente na cidade de Jericó onde existem argamassas com cerca de 9.000
anos, ainda em serviço e em excelente estado de conservação.
Ora, o Cimento Portland é um cimento com elevado calor de hidratação e tem na
sua constituição a Alite ou Alita (C3S) que é a principal constituinte deste cimento (50
a 70% na fase cristalina).
De forma simples e sucinta, tendo presente o objectivo desta nota, poderíamos
descrever o fenómeno da seguinte forma:
Nos “maciços” (grandes massas de betão) subterrâneos e nas paredes
constituídas por argamassa de betonilha, quando constituídos por argamassas de
cimento Portland, sujeitos à presença de água, desenvolve-se a seguinte reacção
química:
A água dissolve o hidróxido de cálcio Ca(HO)2 constituinte do cimento, que se
liberta através dos poros e este ao chegar à superfície reage com o anidrido
3
carbónico contido no ar dando origem a eflorescências de CaCO3, reduzindo a pó a
camada superficial do material exposto.
Com o cimento Pozolanico que tem na sua constituição 30 a 40% de cinzas
vulcânicas (pozolanas) ou argilas e que tem um calor de hidratação baixo este
fenómeno negativo não acontece. As escórias e pozolanas (hidraulites) actuam sobre
o Ca(HO)2, produzem silicatos e diminuem a acção nociva dos sulfatos.
O cimento Pozolanico, "Caementum" dos Romanos resultou da combinação de
cal com pozzolana, uma cinza vulcânica existente no Monte Vesúvio, zona de
Pozzuoli, em Itália. Com este processo conseguia-se obter um cimento com maior
resistência à acção da água, quer fosse doce quer fosse salgada.
Ora, sendo certo que na generalidade das aplicações o comportamento
mecânico destes dois cimentos é idêntico e os preços de ambos os cimentos,
Portland e Pozolanico são aproximados, perguntar-se-á então porque não é utilizado
em Portugal para condições em que a presença de água é inevitável, o cimento
Pozolanico.
As razões são várias e não tendo a pretensão de as indicar a todas, farei de
seguida referencia aquelas que considero primordiais.
A principal é com certeza o facto das pessoas em geral e de grande parte dos
técnicos de construção em particular, considerarem que o problema se deve às areias
contaminadas com sal, que provocam o tal “salitre” e entenderem ser difícil, se não
impossível, adquirir areias sem contaminação de sais e obviamente, por não
conhecerem a real origem do problema. Os contactos e abordagens que fiz sobre
esta questão revelam isso mesmo.
Outra razão é o facto de não existir no mercado em Portugal cimento Pozolanico
em sacos. Nas várias tentativas que levei a cabo, concluí que só é possível adquiri-lo
a granel, em contentores especiais e portanto só se justifica utilizá-lo em grandes
obras, nomeadamente na construção de barragens, onde pelas razões apontadas
(presença da água doce) este cimento é inevitavelmente utilizado e mesmo
recomendado pelas cimenteiras.
As fabricas de cimento portuguesas, embora nas suas indicações técnicas e
especificas indiquem como contra-indicações o “contacto com ambientes agressivos
(águas e terrenos)” para alguns tipos de cimento Portland, informando para outros
também como contra-indicações que “em ambientes agressivos seguir estritamente
as recomendações normativas e os textos técnicos sobre o assunto.”, não dão na
minha opinião, suficiente ênfase e esclarecimentos sobre o assunto.
Pelo menos uma dessas empresas portuguesas tem de facto na sua gama de
produtos o cimento Pozolanico e indica como principais aplicações para este cimento
os tais ambientes agressivos. No entanto o fornecimento só se faz a granel.
Assim sendo o que poderemos fazer para resolver o problema?
Divulgar esta nota pode ser o início do caminho, mas é necessariamente
insuficiente. Procurar materiais alternativos e solicitar massivamente esclarecimentos
às companhias cimenteiras sobre o assunto, pode ajudar a que estas passem a
comercializar o cimento Pozolanico em sacos e a informar como deveriam dos
inconvenientes do cimento Portland e das vantagens do cimento Pozolanico em
determinadas aplicações, nomeadamente das suas vantagens em ambientes
húmidos.
Para minimizar o problema no imediato, penso que a utilização da Cal Hidráulica
existente em Portugal pode resolver parcialmente o problema. Tem um calor de
hidratação baixo e embora a resistência mecânica deste “cimento pobre” como muitas
vezes é designado, seja inferior à do cimento Portland ou do cimento Pozolanico, em
obras em que não hajam solicitações mecânicas especiais, nomeadamente nas
zonas envolventes de piscinas ou de um modo geral em zonas de utilização
exclusivamente pedonal, este material pode, misturado com cimento Portland, em
proporções aconselhadas por técnicos especializados, resolver o problema.
Fica por resolver o problema das pequenas edificações onde a humidade é
uma constante, muitas vezes inevitável, como é o caso das moradias uni familiares,
nomeadamente nas aplicações em que é exigido um certo grau de exigência
mecânica, como é o caso das fundações e das paredes sujeitas a humidade ou
mesmo dos pavimentos sujeitos a grandes cargas. Nestes casos ou se importa de
outros países o cimento Pozolanico ou o problema subsiste.
E como sabemos todas as construções assentam em terrenos, naturalmente
sujeitos a humidade.
Licínio Monteiro