Mais lidas

segunda-feira, 2 de março de 2015

Calculistas x Concreteiras

Debate sobre cimento, calculo de concreto, concreteiras
image
Prezados Calculistas,
Tendo transcorrido uma semana de minha primeira intervenção em um assunto de fundamental importância para todo o meio tecnico envolvido com a produção de estruturas de concreto, e após as colocações dos
vários amigos, creio que podemos avançar na discussão do tema; para tal, e facilidade de raciocínio, vou me valer de uma pequena parte do excelente trabalho do Prof. Eduardo Thomas (http://www.ime. eb.br/~webde2/ prof/ethomaz/-" <http://www.ime.eb.br/%7Ewebde2/prof/ethomaz/pad_cimentos.htm> Cimentos, Concretos e Traços"- pág. 30, 31 e 32).
Corroborando também com o que disse o Prof. Paulo Helene, podemos concluir o seguinte:
1) Até 1970, como cobrimentos usuais de 1,0 a 1,5 cm não tínhamos problemas de deterioração precoce das estruturas de concreto armado com os concretos normais de resistência de ? r( 150kgf/m²) ou 15 MPa, executados nas obras com 7 sacos de cimento (350 kg) por metro cúbico (CPI).
2) Após a introdução do cimento composto com maior reatividade, passou-se a produzir concretos com teor de cimento muito menores, o que já acarretava diminuição da durabilidade, porém a resistência característica pela qual se compra concreto até hoje, estava garantida. (15 a 18 Mpa).
3) Por exigência dos construtores, para economizar tempo e também em formas e escoramentos, as cimenteiras passam a aumentar o teor de C3S em detrimento do C2S aumentando o calor de hidratação dos cimentos e como conseqüência a fissuração por retração.
4) Com o aumento do teor de escória nos cimentos, potencializou- se a exigência do item 3.
5) A deterioração das estruturas era grave quando se discuta a revisão da NBR 6118 que era para ser de 2000 e só saiu em 2003.
6) A nova norma estabeleceu então, em função de 04 (quatro) tipos de agressividade ambiental, resistência mínima, fator A/C máximo e cobrimentos mínimos, que aumentaram muito em relação ao tradicional, usual da época.
Notar que nesta norma não foi mencionado o teor mínimo de cimento, e os calculistas não sabiam que um concreto de Fck 18 MPa, que utilizavam, tinha um teor ridículo de cimento (4 sacos mais 1 capacete).
Alguns achavam um absurdo que a resistência mínima para concreto estrutural fosse de 200kgf/m² (20 MPa) para ambiente de agressividade I e na região litorânea (do Rio de Janeiro) fosse 30MPa, pois a resistência de 150 kgf/m² (15 MPa) atendia perfeitamente aos seus projetos, com um custo muito menor !!!
7) O aumento dos cobrimentos que até os dias de hoje encontram resistência com as quais concordo e que sugiro que sejam revistas, inviabilizam soluções em lajes com menores espessuras, estruturas pré-moldadas, etc., quando hoje temos certeza que seriam resolvidos com um concreto descente, e aqui cito os renomados e experientes engenheiros BRUNO CONTARINI E NAVARRO ADLER, que afirmam com sua experiência de mais de 50 anos que nunca viram uma estrutura de concreto armado executada com um concreto "decente" se deteriorar com 1,0 cm de cobrimento.
8) Podemos concluir então, que com um concreto de boa qualidade, (teor de cimento de 350 kg/m³), compacto, sem porosidade e sem fissuração excessiva, podemos diminuir os cobrimentos prescritos na NBR 6118 atual, conforme disse o Prof. Paulo Helene em palestra do Engº Thomas Carmona na ABECE, com total segurança, em ambientes de agressividade tipo I,II ou III.
9) Conforme demonstrado pela Prof. Eduardo Thomas, os concretos produzidos com os novos cimentos, notadamente o CPIII, fissuram demasiadamente comprometendo a durabilidade das estruturas de concreto.
image
O aumento dos cobrimentos é ineficaz se o concreto for poroso e fissurado, isto é, 10 cm de cobrimento que permite a penetração do agente agressivo do meio ambiente, e menos eficaz que 1,0cm de um concreto denso com PH alcalino sem fissuras ou porosidade.
Finalmente, em nossas normas, encontramos prescrições e limitações para resistência feitas A/C, e até teor de cimento, porém nenhuma restrição é feita ao ti po de cimento estilizado em nossas estruturas.
Como bem disse o Engº Mauricio Sgarbi, e aqui acrescento minha colocação, à semelhança dos remédios para curar doenças, constam na bula às aplicações e contra indicações.
A nossa indústria cimenteira produz 5 tipos de cimento normalizados, que com sua variável quantidade de adições permitidas pode gerar uma grande variedade de cimentos com propriedades físico-quimicas diferentes, e não existe nenhuma restrição normativa para o seu uso.
Se seguirmos as definições da ABCP citadas pela Engª Adriana Carneiro, que reproduzo a seguir para o cimento CPIII, que pode ter de 35% a 70% de escoria, tem 1001 UTILIDADES E NENHUMA RESTRIÇÃO OU CONTRA-INDICAÇÃO:
""Apresenta maior impermeabilidade e durabilidade, além de baixo calor de hidratação, assim como alta resistência à expansão devido à reaç o álcali-agregado, além de ser resistente a sulfatos. É um cimento que pode ter aplicação geral em argamassas de assentamento, revestimento, argamassa armada, de concreto simples, armado, protendido, projetado, rolado, magro e outras. Mas é particularmente vantajoso em obras de concreto-massa, tais como barragens, peças de grandes dimensões, fundações de máquinas, pilares, obras em ambientes agressivos, tubos e canaletas para condução de líquidos agressivos, esgotos e efluentes industriais, concretos com agregados reativos, pilares de pontes ou obras submersas, pavimentação de estradas e pistas de aeroportos."
Necessitamos estabelecer com a participação e comprometimento de todo o meio técnico e com as responsabilidades que competem a cada um (calculistas, tecnologistas, produtores de cimento, construtores, concreteiras, etc) quais os cimentos existentes no mercado brasileiro são adequados à construção de estruturas de concreto armado, quais as contra-indicações ou ainda, o que é necessário acrescentar nos cimentos para produção do concreto estrutural, de maneira que os "efeitos colaterais" não necessitem cuidados adicionais e manutenções mais custosas que a utilização de um cimento/concreto adequado.
Atenciosamente,
<http://www.cspconsultoria.eng.br/assinatura/assinatura.jpg>
<http://www.cspconsultoria.eng.br/assinatura/line.jpg>
Eng. Cesar Pinto
Cesar,
A NBR 6118 não pode proibir o cálculo das tensões diagonais no cobrimento do concreto. Impôr cobrimento sem cálculo, tabelados por tecnologistas mesmo dobrando a resistência do concreto é caro, burro e temeroso.
Fazer sem pensar não presta, além do cobrimento maior se destacar primeiro, as vezes a brita oxida antes do ferro.
Luiz Roberto de Menezes
ECOS DO IBRACON III
Colegas,
A lamentada omissão na palestra do Prof. Mehta a que me referi em minha última msg foi a de não ter sido identificado clara e explicitamente, como ele próprio já tem feito em artigos técnicos, que a alegada tendência à fissuração e à microfissuração dos concretos atuais, responsável por sua deterioração precoce em ambientes agressivos, se deve, inegavelmente, às características dos cimentos compostos que hoje utilizamos, fato este que coloca os cimentos no centro do problema.
De fato, a literatura técnica, tendo em Mehta um de seus proeminentes autores, tem relatado, sobejamente, as alterações radicais das características dos cimentos a partir da década de 80 e a relação existente entre essas alterações com a maior fissurabilidade dos concretos e sua maior vulnerabilidade aos agentes agressivos. Já contei essa história aqui, mas esse é mais um momento para repetí-la.
A crise do petróleo que estourou em 1973 surpreendeu a indústria mundial de cimento, que se viu forçada a optar por alternativas de menor gasto com combustíveis, sob pena do produto perder competitividade no mercado, pelos seus elevados preços. Realmente, a queima de combustível para a calcinação do calcáreo é muito grande, e, de pronto, ficaram condenadas todas as indústrias que usavam matéria prima úmi da (por exigir maior queima), com aconteceu com nossa fábrica de cimento Salvador, que utilizava cálcareo marinho, extraído de jazidas no fundo da baía de Todos os Santos, e que fechou suas portas, imediatamente.
Uma das soluções encontradas foi a de acrescentar ao cimento portland, em sua fabricação, aditivos minerais como pozolanas, escórias de alto forno e cinzas volantes. A dificuldade é que essas adições reduzem o calor de hidratação do cimento ao custo de um prolongado tempo de endurecimento da pasta, e essa inconveniência impediria que os cimentos atendessem às resistências especificadas em Norma e requeridas pelo mercado, principalmente aos 7 dias de idade.
A solução encontrada nas pesquisas para que os cimentos compostos (blended cements) superassem essa deficiência foi a de aumentar a finura do cimento e o teor de silicato tricálcico C3S, incrementando a reatividade química do material (com aumento do calor d e hidratação) e acelerando o endurecimento da pasta, para satisfazer às Normas Técnicas.
O resultado foi muito favorável à resistência à compressão das misturas, embora esse não tenha sido o objetivo do aumento da finura, e todos ficaram muito satisfeitos: os projetistas, que especificam sempre resistência - pois puderam especificar classes mais altas-, os construtores, que compram resistência - pois passaram a usar menos cimento para obter a mesma classe de concreto - e, naturalmente, os fornecedores de cimento - pelo maior prestígio auferido pelo produto. Para se ter uma idéia, segundo a própria ABCP, o mesmo concreto (mesmo traço) que, na década de 70, produzia um concreto C15, hoje, com os cimentos atuais (CP II/III), produz o concreto C25, o qual passou a ser assim a classe inicial, o produto de menor qualidade para uso em estrutura.
A grande finura dos cimentos como solução para viabilizar o uso dos aditivos miner ais na fabricação dos cimentos, tornou-se, de repente, um instrumento de conquista de preferência e de mercado. Há indústrias que, mesmo na fabricação de cimentos CPII e CPIII, conforme confessou-me um engenheiro da ABCP, aumentam deliberadamente a finura de seus cimentos para torná-los mais competitivos em um mercado que compra resistências. O cimento ARI (CP V - Cimento de Alta resistência Inicial) é o recordista em finura e teor de C3S.
image
E tudo ficaria assim em céu azul (de brigadeiro), não fossem as observações de campo que, a partir da década de 90, começaram a identificar que os concretos atuais fissuravam mais e se deterioravam prematuramente, em presença de agentes agressivos. A culpa inicialmente foi atribuída aos construtores, depois aos cobrimentos (projetistas) , até identificarem (e Mehta está entre esses autores) que estruturas bem projetadas e construídas na observância dos requisitos da boa qualidade, mesmo assim, deterioravam- se, na presença de agentes agressivos, com menos de 20 anos de idade.
Soou o alarme da exigência da durabilidade. As normas foram revistas para aumentar cobrimentos das armações e para diminuir a relação água-cimento. Surgem pesquisadores - como Mehta e Malhotra - a afirmar que o problema está na grande fissurabilidade dos novos concretos, na microfissuração entre pasta e agregado, e que, portanto, reduzir fator água-cimento não é o caminho, mas sim reduzir a quantidade de pasta de cimento na mistura. E complementam: melhor será acrescentar aditivos minerais ao concreto e assim corrigir essa fissurabilidade: o concreto inteligente!
Interessante o que se constata nesse cenário!! Não se menciona (salvo raras exceções) que a causa fundamental dessa deficiência do concreto está na elevada finura dos cimentos atuais! Aumentar cobrimentos, acrescentar aditivos minerais são medidas lembradas para evitar os inco nvenientes dos novos cimentos em meio agressivo. Assim como tentar resolver o problema de fazer smart concretes with dummy cements! Quem sabe não seria mais pragmático o mercado exigir dos fornecedores cimentos inteligentes, isto é, cimentos de dois tipos: os que visam apenas atender às especificações de resistência e aqueloutros que se preocupam, primariamente, com a durabilidade e, por isso, já trazem incorporados altos teores de aditivos minerais?! Só que esses últimos necessitam de uma nova especificação que lhes permita resistências mais baixas nas primeiras idades.
Omitir que o cimento é quem desempenha o principal papel nesse drama da deterioração precoce das estruturas em ambientes agressivos julgo ser uma falha grave! A desinformação induz aos equívocos e erros de avaliação que assistimos a todo instante e não nos ajuda a resolver eficazmente nossas dificuldades.
Uma indústria de cimento está a instalar-se em Sergipe para fornecer, exclusivamente, cimentos ARI RS (resistentes a sulfato). Pretende vendê-los como "cimentos de maior resistência a meios agressivos, a exemplo de estações de tratamento de água e esgotos," etc. A meu ver, trata-se de uma publicidade enganosa! Não será por vestir a raposa com uma farda militar que ela se fará guardiã do galinheiro! Não será o sufixo RS que fará o concreto com cimento ARI deixar de expor suas armações aos ataques de cloretos, pela sua alta fissurabilidade, embora possa até ser resistente a sulfatos.
A discussão do problema da durabilidade das estruturas de concreto passa necessária e obrigatoriamente pela discussão das inconveniências das grandes finuras dos cimentos atuais. Mas, surpreendentemente, disso não se fala!! É como se as características dos cimentos não fossem o resultado do confronto de interesses entre mercado x fornecedor, mas sim um presente dos céus ou, quem sabe, um casti go dos deuses, a que temos de nos submeter sem ingerências! Esperava, desejava, ansiava ver o Prof. Mehta, com sua inconteste autoridade e competência, com sua luminosidade de âmbito internacional, fazer-se o porta-voz dessa denúncia ao colocar as características dos cimentos no centro da questão da durabilidade, mas, infelizmente, tinha tudo para acontecer, mas não aconteceu! Uma pena! O grande Congresso do IBRACON seria o momento certo e o local adequado para esse pronunciamento que não houve.
As obras duráveis em presença de agentes agressivos, a meu ver, não necessitam de grandes cobrimentos, mas sim de cimentos inteligentes, de concretos inteligentes e sobretudo do compromisso de seus responsáveis em substituir os conceitos de produtividade pelos da sustentabilidade.
Mas isso só se conseguirá através de uma visão global (holística?) do problema, sem omissões e sem receios.
Cordialmente,
E ngº Antonio C.R. Laranjeiras
ECOS DO IBRACON II
Colegas,
A palestra do Prof. P. Kumar Mehta foi o destaque e a grande expectativa do primeiro dia do Congresso do IBRACON. Nos últimos anos, o Prof. Mehta tem empenhado seus melhores esforços e elevada competência na defesa da sustentabilidade no setor do concreto, ao fazer denúncias e apontar caminhos e soluções. E esse assunto foi, mais uma vez, o tema de sua esperada palestra, no dia 03/09,intitulada:
"Concreto Inteligente: A Solução Mais Poderosa para o
Desenvolvimento Sustentável".
O resumo que se segue é sumário e uma acanhada visão dessa excelente confe rência.
O Prof. Mehta identificou, inicialmente, que o aquecimento global do nosso planeta, como resultado da desatinada emissão de gases poluentes na atmosfera, notadamente o gás carbônico, deixou de ser uma previsão para ser uma dolorosa realidade. O Prof. apresentou o histórico e a projeção futura da concentração de CO2 na atmosfera, até o ano 2100. Em seqüência, caracterizou a indústria do cimento como importante partícipe dessa poluição, ao contribuir com cerca de 7% do total de gás carbônico lançado, regularmente, na atmosfera.
Além disso, acrescentou Mehta, o concreto, como o material de construção mais largamente empregado, utiliza grandes quantidades de recursos naturais, não só na produção do cimento, mas também sob forma de agregados e a própria água. Apresentou quantitativos a respeito. A solução para tornar a indústria do concreto mais amigável em termos da preservação do meio ambiente e dos recursos naturais que utiliza, apontou o Professor, é a redução do consumo do cimento, seja pela redução de seu teor nas misturas, seja pelo aumento da durabilidade do próprio concreto. Para isso, é necessário que se produza um "concreto inteligente" que atenda bem às duas condições acima fixadas.
Segundo Mehta, a durabilidade dos nossos concretos é prejudicada pela tendência à fissurabilidade de nossas misturas atuais, o que torna o material permeável em serviço e vulnerável aos agentes agressivos.
Destacou o Prof. a importância nesse fenômeno da microfissuração que tem lugar no material, desde as primeiras idades, notadamente nas interfaces entre pasta e agregado, a qual estabelece vias de intercomunicação que possibilitam o transporte dos agente agressivos. Como ilustração, apresentou imagens dessa microfissuração do concreto. A solução apontada pelo Prof. para o "concreto inteligente" , capaz de evitar ess a microfissuração e de apresentar baixos consumos de cimento, é a substituição parcial do cimento, em percentuais elevados (>50%), por aditivos minerais como as cinzas volantes (fly-ash) e as escórias. Essa substituição, conforme demonstrou o Prof., notadamente com o uso de cinzas volantes, apresentam resultados eficientes para os fins em vista.
Em conclusão, o Prof. Mehta apresentou exemplos de diversas obras executadas com sucesso - na garantia da durabilidade e na redução do consumo de cimento - nas quais, o cimento foi substituído, em percentuais elevados (60%) por cinzas volantes.
O Prof. bem que poderia encerrar sua brilhante palestra repetindo a mesma frase do poeta alemão Goethe, que ele próprio usou para finalizar um de seus artigos publicados na revista Concrete International do ACI:
"Saber não é suficiente, devemos praticar; querer não basta, devemos agir."
Ao fim da palestra, apesar de deslumbrado com a proficiência do mestre Mehta, dei-me conta que ele tinha omitido um aspecto fundamental do problema, justamente aquele que eu mais ansiava ouvir daquele que, mais do que ninguém, tem o conhecimento e a credibilidade necessários ao convencimento.
Comentarei essa omissão na próxima msg, para não alongar mais esta.
Abraços,
Antonio Carlos Reis Laranjeiras
Caros colegas,
Como todo grande tema aqui na comunidade, a durabilidade é um assunto cíclico entre nós devido à grande relevância que o assunto nos trás.
Em 2005, quando o prof. Paulo Helene era o presidente do IBRACON, fomos (aos que foram) brindados no congresso daquele ano com a palestra de uma das maiores autoridades mundiais no assunto, o prof. P. Kumar Metha.
Apesar de não ter ído ao congresso, usei o tempo verbal acima "fomos" porque nosso estimado e sempre solícito moderador prof. Laranjeiras nos abençoou a todos do grupo com um excelente resumo da palestra com os títulos (assunto do email) "ECOS DO IBRACON (X)" [ X = 1,2 ,3...). Sugiro a leitura de todos.
Mais a seguir vou reenviar nesse email e com a permissão do nosso moderador os "ecos 2 e 3".
Antes porém, farei alguns breves comentários/compleme ntos a respeito do assunto, mas não dos emails do prof. laranjeiras, pois de tão fascinantes e autoexplicativos que os considero entre os melhores e mais importantes emails já lidos aqui na comunidade. Tão importante que, com a permissão do seu autor (nosso moderador) inclui a maior parte do texto "Ecos... (3) na minha dissertação que foi sobre esse tema e concluída no ano seguinte
Os meus comentários são:
- Tendo em vista o assunto não ser de domínio de muitos (eu me incluo) talvez seja conveniente (para não confundir) evitar escrevermos "concreto sem porosidade", pois como bem sabemos este ainda não existe, mas sim concreto com muita ou pouca porosidade.
- Ao conhecermos as características de cada cimento poderemos identificar onde melhor ele será utilizado. Por exemplo: o CPIII (se eu estiver enganado, alguém, por favor, me corrija) necessita de um tempo de cura maior que a média geral dos demais cimentos. E nós sabemos quais são as consequências de se fazer um concreto com uma cura deficiente/inadequa da.
- Está sendo importante o prof. César Pinto nos trazer novamente ao assunto. Este último, inclusive, é rico em assuntos... teríamos muito a conversar... classe de agressividade ambiental, experiências (com as devidas observações ao longo do tempo, mas sem a qual a teoria não se fundamenta) etc.
A seguir estarei reproduzindo os emails que prometi do nosso moderador, torcendo para que o mesmo "perca a cerimônia" (rs...) e venha participar da conversa, nos brindando com sua inconteste autoridade e competência para ens inar. O texto é longo, por isso quem não tiver tempo de lê-lo agora, mesmo a quem já o tenha lido antes, recomendo a sua leitura e/ou releitura.
Att,
Robson Campos
Caro Robson,
As magníficas mensagens do Prof. Laranjeiras tratam de um tema que ele sempre colocava em conversas e em outras mensagens. Foi mesmo uma pena que o Prof. Mehta (eu estava no congresso), não tenha abordado o assunto na sua palestra, muita gente teria que calar a boca.
Acontece que no Brasil falar mal do cimento fura o bucho de muita gente rica, poderosa e influente e a maioria das pessoas evita fazer isso. As concreteiras porque são ligadas às cimenteiras, as construtoras porque não procuram entender o problema, (só lhes inter essa encontrar culpados), os colegas tecnologistas do concreto, (desculpe amigo Egydio), porque quanto mais vagabundo seja o cimento mais contratos eles poderão ter para resolver os complexos abacaxis resultantes do uso desses cimentos. Finalmente sobra para os calculistas que nada têm a haver com isso mas são os que primeiro ficam na linha de tiro.
Estou ficando cansado desse círculo monótono.
Eu não concordo que os cimentos brasileiros sejam "vagabundos". É uma questão de estudar e saber usá-los. E acho que tem gente aqui afirmando demais, sem conhecimento, que os cimentos brasileiros são piores do que os do resto do mundo. Vejo que há colegas que pregam situações que descrevem as "adições" como se fossem "solúveis em água" e esta é uma prática que demonstra não apenas ignorância mas que disseminada, tumultua o mercado. Se já temos problemas demais no mercado como está, deveríamos nos unir e combatê-los. Está me parecendo que há uma "caça às bruxas" ou, como bem disse o Robson, estão "caçando culpados" quando na verdade, tenho afirmado isto sempre, devemos ir "em busca de soluções".
Atenciosamente,
Egydio Hervé Neto
Prezado Palmeira e Colegas:
Estou sendo (muito mal) citado por você e se não conhecesse e tivesse em conta a amizade que temos, maior do que a Engenharia, eu pensaria que estava sendo ofendido por você, tal o teor de sua afirmação: "os colegas tecnologistas do concreto, (desculpe amigo Egydi o), porque quanto mais vagabundo seja o cimento mais contratos eles poderão ter para resolver os complexos abacaxis resultantes do uso desses cimentos"
Posso lhe afirmar que não é assim de uma forma muito simples. Nem os "calculistas" são tão inocentes assim, pois afinal, e esta tem sido a minha clara luta desde 2003, "abocanharam" a hegemonia sobre o projeto estrutural, deixando de lado a parcela que cabe ao Engenheiro Tecnologista do Concreto - Resumidamente: NBR 6118 item 6.4; NBR 12655 item 4.2 letras b), c), d); NBR14931 item 10.2; são itens de Projeto na especialidade da Tecnologia do Concreto que completam a expressão "Projetista Estrutural" - e, por não cumprirem com a apresentação desse escopo em seus projetos, estão deixando órfãs as obras neste aspecto, resultando, como se pode deduzir, em problemas de falta de Tecnologia do Concreto no Projeto.
O que está acontecendo eu expliquei em um Artigo Técnico denominado " Controle Tecnológico do Concreto", que transcrevo abaixo:
CONTROLE TECNOLÓGICO DO CONCRETO
Após 2003, com a mudança da NBR6118, "norma mãe" do concreto, toda uma nova cadeia de procedimentos entrou em vigor, envolvendo o Projeto, a Produção e o Controle do concreto aplicado em estruturas.
Particularmente no caso dos edifícios comerciais, residenciais de médio e grande porte, estas modificações foram significativas e o compromisso com elas, por parte dos Profissionais de Engenharia e demais envolvidos em obras é compromisso legal.
Entretanto as naturais dificuldades de reestudar, compreender e adaptar os novos conhecimentos aos procedimentos do dia a dia das obras está ainda incipiente em muitas obras, e temos percebido que os Calculistas têm reclamado muito de serem chamados a atenderem não-conformidades, especialmente baixas resistências do concreto.
Natur almente o profissional Responsável pelo Cálculo tem que trabalhar junto às suas obras e colaborar com elas, especialmente com o Responsável pela Execução, no sentido de fornecer informações de Projeto completas e sanar dúvidas sobre este Projeto, para que a execução flua com correção.
Por sua vez cabe ao Responsável pela Execução organizar-se de modo a respeitar o Projeto de forma total na Execução, buscando informações e adotando procedimentos que garantam a qualidade da obra como definida.
Isto significa que o concreto da estrutura deve ser corretamente elaborado, seja por terceiros contratados, seja pela própria equipe na obra, e devidamente controlado inclusive com toda a documentação que comprove, a qualquer tempo, a qualidade do concreto em todas as partes da estrutura.
O controle é parte integrante, importantíssima não apenas para a comprovação cabal da qualidade da obra mas também para o própr io andamento da mesma, com respeito às ações construtivas e seus efeitos (esforços) sobre a estrutura, que precisam ser respeitados para evitar fissuras e deformações originadas nesta fase.
Até meados dos anos 70 todo o concreto era feito em obra, sob a supervisão direta do Engenheiro Responsável pela Execução, que providenciava o traço, sempre com apoio de um Laboratório de controle e/ou assessoria de um Engenheiro Tecnologista de Concreto. Desta forma, o traço e todo um programa de controle era organizado para permitir conhecer e atestar a qualidade do concreto a qualquer tempo, bem como apoiar as decisões de movimentar escoramentos, retirar formas, liberando e aprovando a estrutura no devido tempo.
A partir de 1978, com a reformulação da NB1/60, surgiu a NB1/78, logo depois a NB1/80, que trouxe modificação significativa na interpretação de resultados do concreto, introduzindo os conceitos semi-probabilísticos e nele s o surgimento dos estimadores de fck como forma de verificar o atendimento à qualidade.
Em 1992 surgiu a NBR12655, Norma de Preparo e Controle do concreto, que estabeleceu as diretrizes que vigoram até hoje sobre os aspectos relativos à Tecnologia do Concreto nas obras. Esta Norma deveria ter sido divulgada - e infelizmente não o foi - pois contrariava e tornava caducos os conceitos da NB1/80, em vigor, sobre a determinação da qualidade do concreto.
Neste ínterim, surgiram e dominaram os procedimentos de execução do concreto para obras grandes e médias, as empresas de Serviços de Concretagem, mais conhecidas por concreteiras passando a fornecer o material nas obras com co-responsabilidade sobre a qualidade da estrutura.
O advento das concreteiras, um avanço tecnológico desejável, trouxe entretanto duas necessidades que, se não completamente atendidas, resultariam - como vêm resultando em grande parte do mercado - em problemas de qualidade para o concreto, quais sejam:
1. Interagir sob a Supervisão do Engenheiro Responsável pela Execução;
2. Participação do Laboratório de Concreto como terceira parte, no fornecimento dos resultados do controle.
Infelizmente as coisas não aconteceram assim, em grande parte das obras que, ao contrário, tiveram um afastamento do Engenheiro Responsável pela Execução no Preparo e no Controle do concreto, além da inexistente ou deficiente contratação do Laboratório de Controle, considerada erroneamente como um custo desnecessário por muitas construtoras/incorporadoras, que buscam minimizar, com grande prejuízo tecnológico às obras.
Muitos problemas podem ser enumerados como resultantes desse estado de coisas:
* alienação do Engenheiro da Obra em relação ao concreto desde sua contratação, tratada como um negócio e realizada n a área de Suprimentos, retirando a autoridade do profissional da Execução, mesmo quando constata e comprova os erros cometidos pela concreteira, de trocar de fornecedor;
* inexistência de tecnologia de concreto na obra, ao lado do Engenheiro de Execução, pela falta do Laboratório de Controle;
* esvaziamento do papel dos Laboratórios de Controle - que é um serviço caro e especializado, precisa de muitos contratos para se viabilizar - relegando-os ao papel de meros "rompedores de corpos de prova", sem participação nas questões tecnológicas do concreto;
* "controle" inadequado pela NBR 7212 (norma de produção, específica das concreteiras) aplicado à obra pelas concreteiras, ou outros "improvisos" (moldagem na obra por funcionários não-qualificados, p. ex.) com a conivência dos contratantes donos da obra, sujeitando a estrutura ao controle tecnológico ineficiente e fora de padrões de Norma;
* falta de evolução tecnológica nas obras.
Todas estas graves ocorrências estão disseminadas, com honrosas exceções, no mercado atual. Colegas Calculistas estão se manifestando de que recebem inúmeras solicitações de revisão de Projeto em função de resultados baixos de concreto, que chegam às suas mãos sem um critério adequado de apresentação, sem localização em lotes, muitas vezes já com corpos de prova extraídos - sendo que esta atribuição de identificar as áreas e decidir por extrações é atribuição do Calculista - sem consultá-los, e já, afoitamente, pedindo sua opinião, sem maiores critérios.
Ora, todos deveriam saber minimamente que o trabalho do calculista se encerra com a elaboração e a Responsabilidade Técnica sobre o Projeto Estrutural. E que portanto, solicitar ao Calculista a análise de resultados "suspeitos" é um trabalho adicional, qu e precisa ser contratado com todos os ritos dessa contratação. E mais. Interpretar resultados de concreto envolve, mais do que o Calculista, a contratação de um Engenheiro Tecnologista do Concreto experiente, capaz de avaliar a consistência do controle realizado e resultados obtidos na fase de moldagem, e, já que as extrações foram feitas, também estes resultados e procedimentos. Este profissional determinará a qualidade do concreto fornecendo o Laudo com as informações - organizadas e consistentes - que o Calculista adotará em sua revisão.
Após estas etapas surgirá um novo projeto para as regiões não-conformes, segundo as recomendações da NBR 6118: reforço estrutural, uso restringido, demolição e refazimento das partes não-conformes.
Como se pode perceber, avançar e extrair corpos de prova sobre uma estrutura que demonstra - com resultados que precisam ainda ser avaliados - resultado aparentemente não-conformes é uma precipitação que no mínimo pode colocar em maior risco a estrutura, e que portanto só pode ser realizada sob a ordem e Supervisão do Engenheiro Responsável pelo Projeto.
Em conclusão a este artigo, afirmamos a importância de seguir, para o correto Controle Tecnológico, os seguintes passos, que exige o atual estado da arte, representado e em vigor através de nossas Normas Técnicas vigentes:
1. Definir em Projeto todas as características do concreto, se necessário com estudos específicos dos materiais, realizados por Laboratório de Controle idôneo.
2. Organizar o fornecimento do concreto à obra contratando uma empresa concreteira através de critérios técnico-econômicos, preferencialmente já contando com o apoio de uma empresa de controle tecnológico e com a Supervisão do Engenheiro Responsável pela Execução, assessorado por Engenheiro Tecnologista de Concreto experie nte.
3. Ajustar os procedimentos de controle, as responsabilidades e sanções quanto aos resultados do concreto, restabelecendo a hierarquia do Laboratório Contratado pela obra, sobre a interpretação desses resultados.
4. Acionar o Engenheiro Responsável pelo Projeto Estrutural na eventualidade de surgimento de lotes com resultados não-conformes, já devidamente organizados e interpretados pela Empresa de Controle em comum acordo com o Engenheiro Responsável pela Execução, para que este tome a decisão cabível, que poderá iniciar-se pela simples aceitação dos resultados, seguindo por eventuais necessidades de extração e ruptura de corpos de prova e interpretação dos resultados, podendo prosseguir para a realização de provas de carga, reforços estruturais, até mesmo demolição e refazimento.
Sempre que entender necessário e especialmente no surgimento de não-conformidades, o Engenheiro C alculista deverá solicitar o apoio de um Engenheiro Tecnologista de Concreto para fornecer-lhe, através de estudos especializados requeridos, os resultados do concreto devidamente organizados e consistentes, condição básica para tomadas de decisões necessárias nesta grave situação.
Amigo Egydio,
Realmente a minha afirmação ficou pesada e por isso pedi as desculpas antecipadamente. Mas, caro amigo, por favor não me venha novamente defender o cimento brasileiro: É ruim é caro e suas fábricas fazem um dos maiores cartéis do pais.
Também não diga mais que a falta de tecnologia do concreto nas obras é culpa dos calculistas: Como faço para obrigar os caras a contrata-la? Digo: "Só faço o projeto se contratarem". Aí não trabalho mais.
No IBRACON o, (também amigo), Paulo Helene disse: "Os calculistas querem uma fórmula para encontrar o fck da obra", fique chateado. Naquela discussão todos da mesa ficaram na sua, ningém foi conclusivo.
Amigo, como eu disse na mensagem anterior: Cancei!
Abraço
Caro Palmeira:
Acho que mais uma vez respondeste à minha mensagem sem lê-la. Tudo o que eu disse reafirmo. Os Calculistas entendem da matemática do modêlo. Quando se usa a ço, madeira, plástico, respeita-se o material e seus especialistas. Quando se usa concreto, o especialista é o Tecnologista do Concreto.
Os projetos estruturais devem apresentar todas as informações sobre o "material concreto". E se falamos em PROJETO, devemos incluir o cálculo e a tecnologia do material. A não ser que estejamos falando só do cálculo. Nesta caso, ainda falta a tecnologia do concreto. É o que acontece com o estágio atual da Engenharia Brasileira no campo das Estruturas do concreto, com raras e honrosas exceções. Em boa hora a ABECE está reconhecendo isto e já compreendeu a importância do escopo total no projeto: cálculo + material.
Sei que não é esta a intenção: mas enquanto um contratante, uma construtora, estiver contratando um Calculista e o "projeto" resultante não contenha as informações daqueles itens que eu citei, estará incompleto e aviltado pois não tem condições de apresentar a qualidade exigida pelas Normas.
Prezados Senhores,
Ainda que não tenha sido convidado, ouso apresentar minha visão sobre o assunto, dado ter alguma experiência obtida subindo e descendo algumas coxilhas e passando várias canhadas duras e meio caborteiras ao longo da vida.
O fato dos cimentos terem evoluído, aproveitando resuídos industriais, é auspicioso e é embasado em estudos já centenários e exaustivamente comprovados. Um pouco mais de C3S é menos complicador do que quase o dobro de finura medida no permeabilímetro de Blaine; mais cinza volante, fixa mais a cal livre, permitindo menos lixiviação e mais resistência química ( se é possível este têrmo) - tudo é uma questão de conhecimento do engenheiro da obra, pois isto implica algumas mudanças no lançamento e na cura, nada que não esteja ao alcance de qualquer obra. E por aí vai. O cimento em si, é bom, ou pelo menos, não é ruim.
O projeto dos concretos não sofre qualquer mudança substancial, devido a isto; as curvas de Abrams não mudam sobremaneira; nada que não esteja nos escritos de Alfred Hummel ( lembram dele?). Nem precisa do Metha.
Tenho acompanhado os debates aqui e, constrangido, vejo que os gerentes comerciais das concreteiras se deliciam percebendo que ninguém menciona que o produto desvio padrão x coeficiente de variação, utili zado nos projetos dos concretos fornecidos pela nossa indústria de concreto, é quase 1 ( um ).
Esta é a verdadeira origem de todos os problemas que estamos debatendo aqui.
Os concretos fornecidos pela indústria concreteira não tem quantidade de segurança adequada.
É simples assim.
Toda a energia gasta aqui, é, na verdade, fonte de diversão para os diretores comerciais e financeiros das concreteiras, pois eles sabem a razão de tantos problemas. Não é cimento ruim - é concreto muitomuitomuito econômico !!!!!!
Prezado João Kerber e prezados colegas da comunidade.
A situação é tão crítica que, embasados em algumas normas residentes em cartolas (porque dali são retiradas quando necessárias), as concreteiras, além de tangenciarem o valor do Fck comprado, ainda nos pedem que ignoremos quando o resultado aos 28 dias fica 10% aquém do valor do Fck.
A questão vai muito além da técnica, isto , é bem provável que uma estrutura não tenha grandes problemas estando o Fc28 até 10% aquém do valor do Fck (naturalmente que em apenas algumas amostras - 5% no máximo, de preferência). No entanto a questão, nesses casos, é muito mais comercial, isto é, o cliente muitas vezes compra (e paga) um Fck 30 (p.ex.) e recebe um Fck 20.
Senão vejamos, um resultado aos 28 dias no valor de 28 MPa (para um Fck 30 MPa) é, na realidade, o valor que deveria ser atingido por um Fck 20 (ou talvez 21) MPa (utilizando-se um desvio padrão de 4 - mínimo que conheço por norma).
O que tenho recomendado para meus clientes é que coloquem uma cláusula contratual que, além naturalmente de ressarcimentos caso haja necessidade de reforço nos casos de resultados muito baixos, coloquem uma cláusula dizendo que o valor a ser pago será o do Fck atingido, isto é, caso o resultado aos 28 dias esteja abaixo do valor esperado (m esmo que acima do valor do Fck) o concreto a ser pago será aquele que, fazendo-se a conta inversa (Fc28 = Fck + 1,65 Sd), seja atingido.
Espero que isso tenha efeito e, com o tempo, o assunto volte a ter a seriedade que merece.
Abraço a todos.
Walid Joseph Esper.
Engenheiro Civil - CREA 7119/D-GO.
Prezado Walida Esper
Quero congratular-me com sua posição clara de separar questão técnica de questão comercial.
Pratico isso ha 20 anos, felizmente com sucesso até agora.
Também defendo essa posição publicamente como agoro e sempre que tenho oportunidade.
Se o concreto comercialmente deveria ser de 30MPa e deu 27MPa, comercialmente é um concreto de fck 25MPa, mas nós sabemos que a segurança não foi afetada e nem se justifica fazer um recálculo da estrutura, pois bom senso vale sempre.
Nós sabemos que além dos gamas de segurança pra cima e pra baixo, ainda tem os arredondamentos dos diâmetros comerciais das armaduras e das exigências de armadura mínima e seção de pilar mínima, as dimensões da arquitetura, os modelos aproximados de cálculo, etc.
Óbvio que para vigas e lajes vale o mesmo e a situação de segurana ainda é mais suave.
Lamentavelmente vejo colegas recalculando estruturas inteiras devido a fck abaixo somente da ordem de menos de 10% e ainda tentando cobrar da concreteira o " trabalho extra realizado" .
Minha sugestão tem sido: se deu dentro de menos 10% eu considero um problema comercial entre CONSTRUTORA (contratante) e CONCRETEIRA (contratado). Os dois se reunem e se acertam. Ninguém mais tem de querer ganhar um extra devido a uma não conformidade eventual.
Agora, quando se trata de algo frequente e permanente por favor mudem de concreteira (ou de laboratório de controle) ou contratem um tecnologista de concreto para terem certeza de onde está o problema.
Abraços de
Paulo Helene
Caros
Gostei da proposta do Walid.
Nesse nosso Brasil do vale tudo propor um contrato cliente - concreteira é interessante, mas eu acrescentaria mais uma cláusula contratual para o caso de o concreto não atingir as características especificadas.
"Fica a concreteira responsável, durante os próximos 50 anos, por todos e quaisquer danos decorrentes de características impróprias do concreto fornecido, incluindo-se a eventual ruína da edificação, cabendo-lhe indenizar famílias de vítimas fatais, todos os danos patrimoniais de proprietários e de terceiros, assim como os danos morais do construtor".
Assim vai funcionar!
Abraços caetés
Eng.º Civil Marcos Carnaúba
CREA 3034 D -PE/FN
Prezado Carnauba
Para funcionar como você bem diz, se faz necessário acrescentar à sua cláusula que, em havendo qualquer acidente decorrente de um concreto não conforme, o meliante responsavel se apresente imediatamente ao presidio de seguranca máxima mais próximo. Não vale Bangu 1,2,3 ou 4.
Abraço
Godart Sepeda
Apenas para deixar registrada uma opinião ligeiramente discordante do que fora exposto, tenho a comentar:
1. Não acho correta essa "cláusula de contrato" mencionada em e-mails anteriores de transferir à concreteira toda a responsabilidade sobre a edificação durante esses 50 anos nos casos de não-conformidade.
A meu ver, fazer isso seria partir da premissa que as obras são executadas à perfeição, sem quaisquer tipos de erros por parte da construtora e/ou dos diversos fornecedores da obra (seja no que se refere aos materiais em si, como blocos de alvenaria, revestimentos, etc., ou às técnicas de construção, como cura e desforma).
Mais que isso, admitir-se-ia assim que o projeto estrutural e demais especialidades também estão absolutamente corretos, sem quaisquer problemas que possam implicar um pior desempenho da estrutura ao longo de sua vida útil.
Será que nas obras que apresentam uma não-conformidade o vilão é apenas a má qualidade do concreto?
2. Não acho que o calculista deva se isentar da responsabilidade sobre o material concreto, delegando totalmente essa função ao Engenheiro Especialista em Tecnologia.
O colega Sandro Colonese mencionou que calculistas de estruturas de aço, em geral, não têm conhecimento específico sobre metalurgia, mas devem sim ter conhecimentos sobre a interface com a fabricação e a montagem da estrutura, principalmente na hora de especificar o tipo e o detalhe do conector das ligações.
Pode-se saber calcular uma solda e especificá-la corretamente no projeto, mas o detalhe proposto pelo calculista é exequível? Poderá resultar em empenamento das chapas? Se for realizada no campo, a solda é de fácil execução? E assim por diante...
Não tenho a pretensão de defender que o calculista especifique o traço do concreto nem seja responsável pelo controle de qualidade do concreto enviado à obra, uma vez que estas são algumas das atribuições do Engenheiro Especialista em Tecnologia, integrante fundamental de nossa equipe multidisciplinar de engenheiros, conforme já fora exposto pelo colega Egydio em diversas oportunidades.
Acredito que com as estruturas de concreto o raciocínio deva ser análogo ao citado para o caso do aço: especialistas para cada área, mas o calculista sempre como parte integrante do processo de decisão.
Att, Jairo Fruchtengarten
Caro Jairo
Esse debate é saudável e opiniões divergentes são bem-vindas.
Vida útil da edificação é assunto que consta de normas internacionais, mas está ausente da NBR 6118:2003 por razões óbvias. Proteger os calculistas já que os empreendedores reduziram o prazo de garantia (para os seus serviços de construção, e não para os nossos) que constava do antigo Código Civil.
Recentemente - MAIO/2010 - passou a viger a NBR 15575 preenchendo essa lacuna. Vide anexo - trecho copiado da versão original. Ela ainda deu um "bônus" de 10 anos no que consta de outras.
Botando mais um foguinho, os cobrimentos normativos que constam de normas internacionais ainda são maiores, ou iguais, aos da nossa NBR 6118. Se alguém puder justificar o porquê de americanos e europeus assim terem procedido, agradeço.
Como "todos são iguais perante a lei", um prédio de 40 pavimentos deverá ter os mesmos requisitos do citado na NBR 15575, acrescidos de uma carrada de outros.
Abraços caetés
Eng.º Civil Marcos Carnaúba

Pesquisar este blog